O QUE PAULO FREIRE TEM HAVER COM A INCLUSÃO DE DEFICIENTES NA ESCOLA?
Autor:
Miguel Felipe Gomes da Trindade
RESUMO
A inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais em escolas comuns,
ainda é, para a maioria das pessoas, uma questão bastante polêmica, inclusive
para os educadores. Debater para melhor esclarecer a inclusão de deficientes
nas escolas tradicionais é um caminho esclarecedor, capaz de tornar acessível e
possível a todos, enxergar tanto a solidariedade, como principalmente igualdade
de direitos assegurada pela lei brasileira. Na construção de uma sociedade
justa e igualitária, onde a segregação comprovadamente tira de cada ser o
direito de conhecer outras realidade e seguir redescobrindo-se, trazemos nesse
texto as ideias do Educador Paulo Freire, como base dessa revolução educacional
tão almejada por todos. A Inclusão é um grande desafio para todos os educadores,
na medida em que falta informação e que o sistema educacional brasileiro
engatinhar no fornecimento de estruturas de suporte para se fazer cumprir a
lei, tornado nossos tutores “heróis excluídos”. No processo de melhor entender
o assunto descobrimos que Incluir é colocar os alunos frente a frente com uma
realidade de diferenças, mas de iguais direitos. Com base nesse conceito é que chegamos
a realizar a ligação da literatura atual sobre inclusão, com as ideias de uma
melhor escola propostas por Freire.
Palavras-chave:
inclusão, educação, Método Paulo Freire.
INTRODUÇÃO
Conscientes que haveríamos de
realizar um Artigo de Revisão, de pronto sabíamos que não apenas deveríamos
reafirmar o que educadores escreveram sobre inclusão, mas que teríamos que
trazer conclusões novas, como base em diversos trabalhos sobre inclusão
escolar.
Mas
como perceber coisas novas, com muito pouco tempo de leitura sobre inclusão?
Como criar um discurso novo, com a pouca experiência nesse tipo de tarefa? Como
extrair um ponto de vista a partir de discursos e informações empiricamente
valida na ciência?
Muito se fala em Educação Especial
Inclusiva, mas poucos tem a noção correta a seu respeito. Dessa forma trazemos
o seguinte conceito de Educação Especial: "Conjunto de medidas e recursos
(humanos e materiais) que a administração educativa coloca à disposição dos
alunos com necessidades educativas especiais: pessoas com algum tipo de défice,
carência, disfunção ou incapacidade física, psíquica ou sensorial, que lhes
impeça um adequado desenvolvimento e adaptação" (Ezequiel Ander-Egg, 1997,
citado por Marilú M.
Pereira).
Precisamos evoluir na promoção de
uma melhor qualidade de vida àqueles que, por algum motivo, necessitam de um
atendimento mais adequado à sua realidade física, mental, sensorial e social,
tratando-os com o olhar
de igualdade, colocando o deficiente com o status de pessoas, não como um portador,
não mais como um excepcional, mas como pessoas com características da
deficiência diferenciando-a das demais.
Após diversas leituras, vídeos
assistidos e discussões com educadores, conseguimos identificar nos pensamentos
de Paulo Freire um caminho filosófico não só capaz de justificar a inclusão
social do deficiente na escola comum, como enxergar a inclusão como o meio de
modificar e evoluir a própria escola.
FUNDAMENTAÇÃO
TEÓRICA
Todo
e qualquer modismo surge como a solução a ser objetivada para a obtenção de uma
maior qualidade e aproveitamento de recursos. Cada época traz consigo os
modelos de fazer ciência, de interpretar os problemas e de enxergar o mundo. Esses
modelos que surgem estão ligados a aspectos políticos, sociais e econômicos da
sociedade, de forma que os caminhos propostos no campo educacional não fogem à
regra, pois muitos e diferentes são os encaminhamentos que vão surgindo na
história da educação em nosso pais e no mundo. Dentre estas propostas é que
aparecem termos como: “interdisciplinaridade”, “construtivismo”,
‘‘educação global”, “‘currículo transversal”,“centros de interesse”, dentre outros.
Contudo
devemos difundir e assegurar que a inclusão do deficiente na escola comum, não
pode ser vista como uma tendência ou um modismo nas discussões tanto educacionais,
quanto leigas, pois discutida incansavelmente, é matéria já aprova na nossa
constituição. A luta agora é fazer com que a lei seja cumprida em sua
totalidade e que possamos construir uma didática
aperfeiçoada para a melhor construção do ser social.
Temos
no Brasil organizações que vem a tempos na luta pela inclusão e já temos uma
legislação bem definida, muito forte e rica na defesa do direitos das pessoas
com deficiência e agora sobre tudo, com a aprovação da convenção internacional
das pessoas com deficiência podemos avaliar que em termos legais nós caminhamos
e avançamos muito, mas o desafio de implementar toda essa legislação ainda persiste,
para que os direitos assegurados sejam usufruídos por todas as pessoas com
deficiência.
A revolução a ser feita é colocar a
educação especial no contexto da educação geral, ou seja, o dito deficiente
deve ser atendido no mesmo ambiente que o não deficiente. Como tendência
contemporânea, a essa evolução chamamos de Educação Inclusiva, uma vez que o deficiente
é inserido em classes regulares de ensino, sendo tão digno e merecedor da educação
como qualquer outra pessoa.
Essa
ideia pode ser baseada, a nosso ver, em uma realização bem conhecida, quando Paulo
Freire, já com seu método de alfabetização de adultos, colocou o oprimido na
história, tornando a pessoa invisível, em algo visibilizado pela cultura
dominante. Isso é por si só um ato revolucionário. Seria a perspectiva de
libertação, humanização e de conscientização, que parte do princípio de que: 1º
Todos somos um ser curioso e estamos sempre fazendo uma leitura do mundo; 2º somos
seres inacabados, incompletos e inconclusos, fazendo com que um ser precise do
outro; 3º se nascemos como seres conectivos com o mundo que compartilhamos,
então é dessa forma que se dá a transformação, pois somos seres em constante
mutação e transformação.
De
acordo com Gadotti (2010), essa construção da conscientização e a busca pelo
conhecimento de nossa população no que se refere a inclusão social, seja ela
qual for, está justamente no processo
dialogal tão relatado por Paulo Freire e também proposto por Sócrates, de forma
que para que você atinja o conhecimento, não basta ter apenas a informação,
pois é necessário juntar a informação que você recebe com aquelas que você vivencia
e daí poder concluir com uma decisão ética, com uma ação ética..
Sabemos
que a inclusão deve ser cuidadosa
e racional, pois uma precipitação pode provocar mais frustração do que
satisfação a pessoa com necessidades
especiais, que precisa ter condições mínimas para se adaptar a certas
realidades, pois nada justifica o seu isolamento do convívio com outras
pessoas, seja dentro ou fora da escola. Contudo, Julgamos que esse
dialogo só pode ser concreto no fazer, ou seja, a inclusão escolar é um tema
muito recente, pouco se tem de estudo que indique uma formula de melhor
realiza-la e é melhor errar tentando fazer o correto, do que achar que o
sujeito responsável pela evolução social do deficiente seja uma clinica médica
ou apenas entidades “deposito de gente com necessidades especiais”.
A
conscientização de todos enquanto sociedade, sejam os educadores, os pais ou o
próprio deficiente, está em oferecer a um ser a capacidade de aprender por si
só, tendo como base inicial seu próprio aprendizado, conforme Paulo Freire. Aprender
não é acumular conhecimentos, as informações são muito voláteis, elas
envelhecem rapidamente, o importante é aprender a pensar sob cada realidade.
Por isso é tão importante que possamos ampliar o “mundo” de uma pessoa em que
as dificuldades motoras, ou de visão e audição, ou renal, etc, tendem a isola-lo.
Segundo
Paulo Freire, “Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as
possibilidades para sua produção ou a sua construção... Quem ensina aprende ao
ensinar e quem aprende ensina ao aprender”. Ofertar a todos educação é preparar
não somente o mudo para nossos filhos, mas preparar nossos filhos para o mundo,
sedo eles capazes de serem mais; mais humanos, mais lutadores para que não
morra a vontade de viver melhor, que sejam menos passivos, menos medrosos, mais uteis,
enfim, ter mais qualidade enquanto gente.
Segundo Mantoan,
no artigo: O Direito de Ser, Sendo Diferente, na Escola : “Há ainda que vencer
os desafios que nos impõem o conservadorismo das instituições especializadas e
enfrentar as pressões políticas e das pessoas com deficiência, que ainda estão
muito habituadas a viver de seus rótulos e de benefícios que acentuam a incapacidade,
a limitação, o paternalismo e o protecionismo social.”
O
grande objetivo é fazer com que a justiça social apareça antes da caridade. Dessa
forma vemos os educadores como o pilar mais concreto para instigar essa
revolução, que possivelmente durará o tempo de formação de toda uma nova
geração. Para tanto não basta que eles apenas se ofereçam na plenitude de suas
qualidades, é preciso que busquem melhorar seus conhecimentos, para lidar com
salas que possuam diferentes necessidades de aprendizado e principalmente, que
eles extrapolem as salas de aula e mostrem a sua comunidade, através de suas
ações, que é possível lidar com o “diferente”, sem enxergá-lo como um incapaz e
limitado. É necessário que o educador vença, através de novos conhecimentos,
seus preconceitos, pois parafraseando Freire: “Educar-se é encharcar
(impregnar) de sentido cada ato cotidiano”.
O
caminho parece longo, pois se a escola deve forma para a cidadania e pela
cidadania, vislumbrando uma educação libertadora, então o aluno deve ser
protagonista, devendo participar em tudo que diz respeito a sua vida e não
apenas receber as normas de fora. Dessa forma, como é possível lidar com a
inclusão social escolar se 80% dos alunos, segundo pesquisa citada por Gadotti,
não gostam de ir a escola? Alguma coisa está errada, ou seja, o sistema adotado
continua caminhando em uma direção errônea, onde o prazer de “saciar a fome da
cabeça”, Paulo Freire, não tá sendo efetivado como deveria.
Mantoan
relata: “É certo que os alunos com deficiência constituem uma
grande preocupação para os educadores inclusivos, mas sabemos que a maioria dos
alunos que fracassam nas escolas são crianças que não vêm do ensino especial,
mas que possivelmente acabarão nele!”
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
O
conhecimento não é somente histórico, epistemológico, lógico, mais também
dialógico. O grande caminho para evolução dos nossos sistemas de ensino é
transformar esse conhecimento imposto, unilateral, incutidor de ideias,
doutrinador, hierarquizado de cima para baixo, para um ensino dialético. A
dialética é revolucionaria e construtora, a contradição é o berço da mudança, o
berço da liberdade, o berço da transformação e ela somente se dá no dialogo. Para
que possamos construir e muda o que tem que ser mudado, é preciso que a escola
apenas não forme gente, mas sim os forme formando-se. Se todos já tivessem essa
consciência, então a inclusão social do deficiente na escola já seria uma
realidade.
Tão
importante quanto é para um deficiente usufruir do conhecimento e o convívio
social trazido pela escola, também é preciso oportunizar ao aluno dito de
escola tradicional a possibilidade de se sentir sujeito da inclusão, sendo
capaz de achar normal a convivência com os ditos “especiais” para que sua
realidade seja ampliada, sua cidadania seja plena e vivencie desde muito sedo a
solidariedade. O aluno como sujeito social, prova
dos saberes experienciais.
A partir do movimento pela escola inclusiva, é que será
possível a construção de uma visão ampliada e humanista sobre a educação, que
fortalecem os princípios da não segregação, convivendo com a diversidade, a
valorização da socialização e da igualdade, fomentando a relação professor-aluno-cultura
escolar. Sendo através da análise e elaboração de estratégias próprias, de cada
escola e de cada professor, a partir de sua realidade, de sua formação e
convicções que aglutinaremos saberes novos sobre a inclusão, que irão auxiliar
na construção de uma didática aperfeiçoada para trabalhos futuros.
BIBLIOGRAFIA
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Marilú Mourão. Artigo:Inclusão Escolar: Um Desafio Entre o Ideal e o Real. http://www.portaldaeducacao.com.br/pedagoria/artigo2284.