Reflexão Sobre a Construção de um Modelo Educacional.
Autor: Miguel Felipe Gomes da Trindade
RESUMO
A reflexão da realidade faz-se
necessário sempre! Essencialmente mediante crises e o clamor da população, para
que haja ações urgentes de mudança do quadro presente. Certamente o modelo de
educação não somente brasileiro, como vistos em boa parte da literatura
consultada, atinge resultados morosos e insatisfatórios diante de padrões de
nações ditas desenvolvidas. O presente artigo se estrutura a partir dos
seguintes blocos temáticos: apresenta uma compreensão básica e introdutória sobre
a busca por um modelo eficiente e eficaz de educação, bem como indica formas de
se buscar esse modelo, entendendo suas vantagens e complicações. Alerta para
modismos de modelos educacionais e critica a falta de modelos de qualidade que
possam indicar um norte a ser debatido e buscado como forma de sair da inércia
de nossas políticas e melhor aproveitar os recursos.
Palavras-chave: Modelo
Educacional; Habilidade e Competências; Futuro da Educação.
INTRODUÇÃO
Qual o Educador, aluno ou pai, independente do tamanho de sua comunidade,
que ainda não tenha se perguntado, qual seria a forma de educar mais adequado para preparar e
formar o indivíduo para o pleno exercício da cidadania e para o mercado de
trabalho? É uma simples pergunta que envolve toda e qualquer sociedade, mas
essencial para que se possa projetá-la para um futuro de sucesso.
Sabemos
que a mudança deve acontecer como vimos em 2013, às ruas de todo pais clamando
por melhorias. Contudo a grande massa não sabe como proceder diante de tanto
caos, refletido no dia a dia de cada um e nas estatísticas educacionais brasileiras.
O
sistema de ensino público é visto por pensadores, correntes e tendências como
obsoleto e incapaz de se renovar, de forma que as críticas alimentam-se,
preocupantemente, de um sentimento de crise.
Um
indicativo, trazido das empresas é de que para que haja um começo, é necessário
um olhar para dentro das estruturas educacionais e ter como referência o
ambiente externo que pode requerer a revisão de sua contribuição para a
melhoria de sua resposta para a sociedade. É essencial que haja um norte
a ser seguido, como forma de buscar em conjunto, de forma clara e objetiva, um
modelo eficiente de construção do saber.
Na
verdade, é preciso perguntar: Qual o modelo de Educacional deveremos buscar? E
tão importante quanto: “Qual é o seu modelo de Educacional que vem sendo
adotado?
Na
escolha de um há um conjunto de escolhas a serem feitas pelos educadores, sobre
caminhos a serem traçado para a melhor construção do saber, sobre o trabalho de
gestão, como eles definem objetivos, motivações, esforços, coordenação das
atividades e alocações de recursos.
Importante
lembrar que escolher ou formatar um modelo é fazer escolhas. Escolhas sobre
como as atividades são coordenadas pelas políticas educacionais, como são
tomadas as decisões descentralizadas (em cada rincão), escolhas sobre a
natureza dos objetivos que cada escola almeja e escolhas sobre como os
indivíduos estão motivados para prosseguir estes objetivos.
A verdade
é que não existe receita para o sucesso no desenvolvimento de um modelo de educacional,
há muitas abordagens válidas e o primeiro passo é ter uma liderança comprometida
(corpo docente), em atender a todas essas escolhas sendo um exemplo a ser
seguido pelos demais componentes da estrutura escolar.
REFERENCIAS TEÓRICAS
No
campo da administração enxergamos que
as grandes soluções, idéias
e inovações provem da clientela, em busca de satisfazer suas necessidades e
anseios. Contudo essa comunicação ainda precisa ser mais ágil, barata e
traduzida de forma segura; além do que deve ser objeto de pesquisa em tempo
real, para que seja capaz de nortear as ações da gestão na busca da qualidade,
no gerenciamento de recursos, geralmente escassos e na gestão de
conflitos.
È objetivo de quem estuda Educação
buscar o produto ideal, ou seja, o modelo mais eficiente na educação, capaz
realmente de desenvolver as habilidades e competências do corpo discente, que em
nossas
instituições, tem se mostrado pouco eficiente.
Estamos presos a ementas e imersos a conteúdos que não são capazes de acompanhar a evolução
do mercado de trabalho, pouco se investe em aperfeiçoamento para o professor e
o investimento em estrutura e tecnologia são mínimos.
Preparar um ser para
viver melhor é muito mais profundo do que apenas dotá-lo de conhecimentos em
matemática, português, ciências etc, pois, mais do que o qualificar, é
necessário fornecê-los mecanismos capazes de desenvolver suas habilidades e
competências.
É perceptível que embora alguns bons alunos que tenham a
facilidade de se expressar bem na forma escrita, ainda possuam dificuldades de
se expressar oralmente, encapsulados por seus complexos, de forma ansiosa e
envolta pelo medo de errar e/ou esquecer suas explanações. A grande maioria tem
dificuldades preocupantes para administrar sua vida financeira, para planejar
sua careira, para gerenciar seu tempo e para transformar simples conhecimentos
teóricos em práticas.
Gerar competência é
bem diferente de fornecer qualificação. Competência estar relacionada a
conhecimentos, habilidades e atitudes, estando voltada para a gestão de
recursos e de mudanças. Sendo assim, educar não pode define-se mais com uma
simples difusão do conhecimento, para tanto é necessário administrar situações
complexas de aprendizagem, visto que o colegiado deve se tornar um centro capaz de refletir
sobre suas práticas, de resolver problemas, de ensinar a escolher e por fim, de
elaborar estratégias pedagógicas mais eficazes.
Todo e
qualquer modismo surge como a solução a ser objetivada para a obtenção de uma
maior qualidade e aproveitamento de recursos. Cada época traz consigo os modelos
de fazer ciência, de interpretar os problemas e de enxergar o mundo. Esses
modelos que surgem estão ligados a aspectos políticos, sociais e econômicos da
sociedade, de forma que os caminhos propostos no campo educacional não fogem à
regra, pois muitos e diferentes são os encaminhamentos que vão surgindo na
história da Educação em nosso país e no mundo. Dentre estas propostas é que
aparecem termos como: “interdisciplinaridade”,
“construtivismo”, ‘‘educação global”, “‘currículo transversal”,“centros de interesse”,
“metodologia de projeto", dentre outros.
Muitos são os termos abordados em
educação que podemos encontrar em destaque nas prateleiras das livrarias,
conforme destaca Maria do Socorro de Souza (1998:11),:
"As edições pedagógicas
enchem as prateleiras de livros sobre construtivismo, interdisciplinaridade e
pedagogia de projetos. (...). Nas diretrizes curriculares atuais apresentadas
pelo MEC aparece: ‘Interdisciplinaridade como uma das diretrizes para uma
Pedagogia de Qualidade’. Professores se dizem construtivistas e indagam aos
outros se também o são. Os pais dizem que não acreditam no construtivismo. Uns
chamam de método construtivista, outros dizem: ‘não é método, é teoria’.
Escolas ainda anunciam que a Educação Libertadora já passou, sendo agora a vez
do construtivismo. Dentro das escolas, os professores vivem a
interdisciplinaridade, fazendo viagens com os alunos, nas quais vão professores
de mais de uma disciplina, orientando o trabalho de geografia, história, etc.
Todos estão tentando viver a interdisciplinaridade, planejando com seus
colegas, falando de outros saberes em sua aula."
Bem mais
interessante do que tentar trazer diversos conceitos e definições sobre o que
compõe esses modismos é tentar entender de que forma eles surgem. Vejamos que,
a interdisciplinaridade emerge
oficiosamente como forma de contrapor a fragmentação do saber que atinge a
pedagogia mundial.
Em civilizações antigas, em
oposição ao saber das sociedades atuais, podemos observar que o saber se
construía de forma mais global, como pontua Silvio Gallo (1994:159):
"Nas
sociedades antigas, a produção do conhecimento fazia-se em respostas às
necessidades de explicação de uma realidade misteriosa que era experimentada no
dia a dia, espantando os nossos ancestrais e levando-os a formular questões
fundamentais em torno do sentido da vida e do universo. As repostas então
construídas estavam inseridas naquele contexto social e eram necessariamente
globalizantes: misturavam religiosidade, engenhosidade e praticidade. Deste
modo, os primeiros conhecimentos sobre o mundo construídos pelo homem não
estavam dissociados, mas todos brotavam de um ponto comum e procuravam
explicá-lo."
Ainda
segundo Gallo, a partir da revolução industrial, mediante o acúmulo do saber,
foi ocorrendo de um lado, uma especialização cada vez mais radical dos saberes
e das ciências, e de outro, a perda do domínio da totalidade do conhecimento
global sobre a realidade pelos indivíduos.
No
entanto, ao mesmo tempo em que ocorria a fragmentação e a especialização dos
múltiplos saberes, no trabalho, a produção deixava de ser autônoma e complexa
nas mãos de indivíduos qualificados, passando a ser um processo de produção
atomizado e desqualificado. Assim é que, tarefas que no passado requeriam certa
qualificação profissional foram divididas e subdivididas em várias tarefas
simples que qualquer pessoa sem formação poderia desempenhar. E, como nem todo
trabalho era possível de ser realizado por pessoas sem uma qualificação
profissional especializada, toda tarefa específica passou a ser realizada por
especialistas. E é por esta razão que a educação da época era direcionada ao
desenvolvimento de habilidades, altamente especializada, fragmentada e
desconectada de um todo que poderia ser a sociedade, o corpo humano, ou um
edifício.
O modelo
de produção, tão pontuado nas escolas de Engenharia e Administração, proposto
por Taylor e aprimorado por Ford, passou a declinar nitidamente na década de
80, quando as sociedades, principalmente que iniciavam a reconstrução da
democracia, clamavam por novas necessidades de uma economia de produção mais
flexível e a elevação do consumo trazia consigo, a busca por produtos
diferenciados e conectados com os padrões globais de tecnologia. Sendo assim as tarefas fragmentadas e o trabalho
individualizado cedem, dando lugar ao trabalho em equipe com ênfase sobre a
participação dos trabalhadores.
Essa
evolução prova que a sociedade é mutante nas suas necessidades e dessa forma, a
indicação de um modelo educacional comum a toda nação, poder-se-á ser um
caminho perigoso, no tocante a o engessamento das formas de construção do
saber. Sendo assim, trazer o melhor da contribuição de diversos autores e
educadores é por si só formar um debate, indicar um caminho e democratizar o
pensamento filosófico já registrado.
Se o
processo de globalização exige indivíduos mais capazes de resolver problemas
cada vez mais complexos, então também requer indivíduos com saberes cada vez
mais globalizado. Assim sendo, nesse novo ideal de educação vê-se surgirem os
conceitos como ensino globalizado, participação do aluno na construção do
saber, democracia nos debates, trabalho em equipe, abrangência dos
conhecimentos, autonomia para a administração do tempo e por fim, a grande bola
da vez, cadeira cativa na formação pedagógica: a interdisciplinaridade.
Um currículo interdisciplinar é um
tipo de método de ensino ou plano de curso, que incorpora as contribuições de
vários assuntos disciplinares em um único tópico. Funcionando de certa forma como um resgate desse
conhecimento mais abrangente, proporcionando aos alunos não apenas a
compreensão do tema central, mas uma profunda compreensão das relações, do
contexto mais amplo do assunto e trazendo nos
valores de contextualizar a informação como um meio de melhorar a compreensão.
Porem nem tudo são flores,
pois revendo os críticos da interdisciplinaridade, observamos a sugestões de
que o método poderá levar a ignorância dos tópicos mais essenciais, pois na
busca por explorar o que é importante a ser levantado dentro do assunto, possa
se perder a missão crítica planejada para uma aula.
Na
prática, visto o entendimento de diversos autores, a interdisciplinaridade,
provem da necessidade de trocas entre os especialistas e na integração das
disciplinas num mesmo projeto de pesquisa ou plano de ensino, sendo necessário
refletir a fundo sobre a produção, a transmissão e a aquisição do conhecimento.
Contudo,
o conceito propriamente dito, ainda como exemplo, a interdisciplinaridade, é
algo ainda em construção, tratando-se de um campo de estudo ainda não
solidificado. O que Ivani Fazenda (1995a:30-1) esclarece, pontuando que o termo
“interdisciplinaridade” não
possui ainda um sentido único e estável e que trata-se de um neologismo cuja
significação nem sempre é a mesma e cujo papel nem sempre é compreendido da
mesma forma. O que nos leva a observar que são por estes motivos que as
discussões e o estudo sobre o assunto ainda se encontrem presentes em destaque
em vários lugares, juntamente a outros termos tão debatidos em estudos de
melhoria da qualidade na educação.
Maria
Clara Infante Pereira juntamente com outros autores (1991:288), em um artigo
intitulado "A Interdisciplinaridade no Fazer Pedagógico", assim
escreveram:
"Ela
pressupõe a interação, e não simplesmente a integração de disciplinas
científicas, de seus conteúdos e diretrizes, de sua metodologia, de seus
procedimentos, de seus dados e da organização do ensino. Acreditamos na
interdisciplinaridade como instrumento que pode contribuir para que a escola
seja um lugar onde se produza coletiva e criticamente um saber novo."
Então,
para a formatação de um estudo serio e comprometido, há a concordância de
diversos autores da área de gestão educacional que não se é possível a adoção puramente
de uma escola ou modelo por imposição ou por mero modismo, pois sua
prática exige um planejamento integrado, que em geral não é tarefa simples.
Para tanto, algumas questões devem ser pensadas, tais como:
1. De que
modo a globalização, em toda sua corrente neoliberal, determina a forma de
implementação de um modelo na educação?
2. A
dificuldade da operacionalização de um modelo origina-se da necessidade de
recuperação em caráter emergencial de nossa construção do saber?
3. A
implementação de um currículo especifico será uma obrigação imposta pelo MEC às
instituições de ensino, ou será uma exigência de mercado para que o individuo,
em sua formação, tenha uma visão mais ampla das origens dos problemas e suas soluções
históricas?
4. Como
nossos professores poderão adentrar na transmissão do saber por uma abordagem imposta
ou recomendada, se suas formações primavam por um modelo que foi transferido
durante anos de docência em suas áreas de conhecimento?
5. Como sair
da formula “cartesiana” de ensino, fazendo com que o aluno contribua para a
produção do saber e, de forma responsável, não apenas seja um mero receptor do
conhecimento?
6. Como
tornar a sala de aula menos chata?
Embora
instituir o direcionamento por um modelo bem debatido seja tarefa árdua nos
primeiros momentos, é sabido que “o caminho é o caminhar”, pois precisamos
abrir as portas e janelas, para que a educação areje-se de conceitos
evolutivos, mesmo que para isso seja necessário beber de fontes importantes do
passado. Fontes essas bem justificáveis, pois é notório que boa parte dos
professores brasileiros ainda não as tenham conhecido.
Dessa
forma podemos trabalhar a construção de um modelo não como o fim. Sendo para
tanto, necessário em primeiro lugar uma atitude, por parte do professor, uma
predisposição psicológica a ser desenvolvida no aluno e entendimento por parte
das instituições de ensino, da necessidade de garantir recursos como tempo,
investimento e apoio destinados aos educadores, de forma que estes possam ter
condições de estudo, pesquisa e preparo de um trabalho inovador, diferenciado e
qualitativamente bem embasado.
Precisamos
de vistas largas, de um pensamento que não se feche nem nas fronteiras do
imediato, nem na ilusão de um futuro mais que perfeito. À maneira de Reinhart Koselleck
(1990), interessa-nos compreender de que modo o passado está inscrito na nossa
experiência actual e de que modo o futuro se insinua já na história presente.
Pensar
o futuro é um exercício arriscado e, muitas vezes, fútil. Mas, apesar dos
avisos, não resistimos à tentação de imaginar o que nos irá acontecer,
procurando, assim, agarrar um destino que tantas vezes nos escapa. Como revela
Pierre Furter.
O
horizonte não existe para nos trazer de volta à origem, mas para nos permitir
medir toda a distância que temos a percorrer. O homo viator constrói uma casa apenas para o tempo necessário, pois
é caminhando que ele se encontra e descobre o sentido da sua ação. (Furter,
1966, p. 26)
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
O
conhecimento não é somente histórico, epistemológico, lógico, mais também
dialógico. O grande caminho para evolução dos nossos sistemas de ensino é
transformar esse conhecimento imposto, unilateral, incutidor de idéias,
doutrinador, hierarquizado de cima para baixo, para um ensino dialético. A
dialética é revolucionaria e construtora, a contradição é o berço da mudança, o
berço da liberdade, o berço da transformação e ela somente se dá no dialogo.
Para que possamos construir e muda o que tem que ser mudado, é preciso que a
escola apenas não forme gente, mas sim os forme formando-se. Se todos já
tivessem essa consciência, então educação sem desperdício de investimento e
alto rendimento no desenvolvimento de habilidades e competências, para todos,
já seria uma realidade.
A partir do movimento pela construção de um modelo
educacional de excelência, é que será possível a construção de uma visão
ampliada e humanista sobre a educação, que fortalecem os princípios da não
segregação, convivendo com a diversidade de opiniões, a valorização da
socialização e da igualdade, fomentando a relação professor-aluno-pais e cultura
escolar. Sendo também através da análise e elaboração de estratégias próprias,
de cada escola e de cada professor, a partir de sua realidade, de sua formação
e convicções que aglutinaremos saberes novos sobre o que é eficiente e eficaz,
que irão auxiliar na construção de uma didática aperfeiçoada para trabalhos
futuros.
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