terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

“Se quer mesmo ser feliz, vai ter que aprender a ignorar muita coisa.”


Dr. House,
É uma aclamada série médica norte-americana, criada por David Shore e exibida no Brasil pela Rede Record e pela Fox. O personagem principal é o Dr. Gregory House, interpretado pelo ator inglês Hugh Laurie. É um infectologista e nefrologista que se destaca não só pela capacidade de elaborar excelentes diagnósticos diferenciais, como também pelo seu mau humor, ceticismo, sarcasmo, pelo distanciamento dos pacientes e comportamento anti-social (misantropia), já que ele considera completamente desnecessário interagir com eles.

Em uma conversa muito proveitosa, um amigo meu, aqui a quem vamos chamar de Dr. Armando, relatou-me que essa célebre frase havia chegado até ele, pelo Facebook, na semana passada, como uma daquelas gotas que não para de pingar, mesmo que se tente apertar a torneira. 

Dizia-me:

- Passei os dias a pensar intermitentemente, na sabedoria cruel, que acabou por me despertar, talvez do que resta do principal sonho que ainda permeia em meu ser. O de tentar revolucionar o mundo ou pelo menos o mundo dos que estão a minha volta. Muito embora, em certos momentos, pensara: já deveria tê-lo deixado escapar.

- Ainda no inicio de minha adolescência, me foi apresentado por meu pai, uma frase de Léon Tolstoi: “Todos pensam em mudar o mundo, mas ninguém pensa em mudar a si mesmo.” E fiz dela, aliado aos meus estudos, um caminho para melhorar como pessoa e passar a ser exemplo, pois só assim, tornando-me espelho, poderia influenciar outros, para se auto-melhorarem e assim por diante. Achava que essa seria a pista para a estrada da verdade, capaz de fato de me tornar semente de uma revolução.

- Na trilha desse caminho em ser Doutor, achava que deveria manter a capacidade de indignação e a coragem para expressar verdades, ditas por mim melhores, mesmo que a principio magoassem alguns.

- E confesso: Coitado de mim! Pois por um bom tempo, enveredara, sem perceber, por uma armadilha deprimente. Porque para que tal idéia fosse posta em prática, necessariamente, eu deveria ser melhor do que os outros e, o pior, me mostrar melhor. Deveria ganhar espaço, tornar-me líder, mostrar que sabia. Então, Julgar, julgar e julgar seria a palavra de ordem. Propor, propor e propor também. E demorei muito para fechar essa torneira, mas acho que fechei a tempo, embora de vez em quando, ela dê umas pingadinhas, como agora, relatando-lhe tudo isso. 

- Mas saiba que esse momento foi uma decisão.  Veja bem:

- Minha formação é em administração. 90% das palestras que assisti, ditas para administradores, foram de psicólogos, jornalistas, médicos, políticos, juristas e até camelô falando de marketing pude presenciar, dentre outros. Mas percebam: em quantas palestras para advogados tem administradores falando sobre comportamento do consumidor? Em quantas palestras para médicos, tem administradores palestrando sobre gestão? (o grande problema da saúde), Em quantos congressos de psicologia tem administradores ministrando conceitos de cultura organizacional? É como se todos fossem dotados de conhecimentos profundos sobre administração, que o mundo precisa atentar e, os administradores não fossem profissionais de opiniões científicas e práticas interessantes. Quando percebi, senti a desvalorização da profissão que escolhi e que tento manter o orgulho.

- Também percebi que nos bares da vida, todos depois de quatro copos, sabem tudo de tudo. Passam descaradamente para o personagem gente de sucesso, gestores natos e palestrantes influentes. Rebatem conceitos, que nunca estudaram ou refletiram em profundidade, argüidos de que a teoria nada tem haver com a prática. 

- Nas faculdades em que passei, os títulos valem mais do que a capacidade de expor os conhecimentos e envolver os alunos. 

- No mundo real, o ter é definitivamente, mais importante do que o ser!

- Pois meu amigo, na contra maré, das grandes prioridades elegidas para minha vida, foi nesse momento em que “mostrar saber ganhar dinheiro”, apresentou-se como a fórmula, incontestável de respeito, que todos esperam dos outros e principalmente de mim.  Seria como um cartão de visita, que impõe respeito, demonstra poder, capaz de aguçar a admiração, ou quiçá a inveja, em direção a minha pessoa. E isso se faz mostrando bens materiais, você sabe, né?

- Mas hoje, em plena consciência, da armadilha do conceito mostrar ter, foi que decidi fechar a torneira de meus conselhos. Não me sinto tentado a me mostrar, embora certamente seja inevitável. Conforto-me pela frase de que “santo de casa não faz milagres” e sigo na árdua postura de tentar ignorar “os ignorantes”, para não me mágoa e muito menos a eles. Apenas busco “fazer milagres em outras paróquias”!

- Hoje em dia nem pitaco sobre melhorias no atendimento em uma loja eu profiro mais! E você sabe que é a especialidade que mais me identifico.

- E Assim busco extrair conhecimentos em territórios temidos. Mas é um exercício de humildade, onde me sinto muitas vezes ator e fico a me perguntar toda a semana “o que é que estou fazendo aqui?”

- Ignorar coisas tem seu custo e isso eu sei! Mas Assim sigo, tentando não me tornar um Dr, House.

2 comentários:

  1. É Miguelitchos, tornar-se Dr. House parece ser a prioridade de muita gente hoje e dia. Não é a toa que o seriado faz tanto sucesso, pois há de ocorrer algum tipo de identificação com os personagens para que a coisa engrene. O que a maioria ignora é que não precisamos ser estúpidos e arrogantes para sermos competentes e bem sucedidos! Tô adorando seu blog viu! parabéns! Xerão

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    1. Valeu mesmo. Esse é o sentido do texto. Parece que a grande maioria tem essa sede de poder, apara agir como quiser.

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